''V for Vendetta'' e a narrativa oculta.
Após John Lennon apresentar-se, neste singelo post tenho o objetivo de conceber uma pequena narrativa do filme "V de Vingança" para um maior entendimento de seus elementos representativos. "Remember, remember, the 5th of November The gunpowder treason and plot; I know of no reason why the gunpowder treason Should ever be forgot."
O filme se passa numa Inglaterra regida ao sistema fascista, que se assemelha em vários aspectos ao regime totalitarista nazista, tais como a perseguição e tortura por intolerância realizada pelo Estado, usando a mídia (principalmente televisiva) para moralizar suas atitudes, alienar a população e fazê-la, ao mesmo tempo, amar e temer o Estado.
O partido fascista inglês foi eleito pela população por conceder a solução para o caos em que se encontrava a Inglaterra, após a morte de mais de 100.000 pessoas pela devastação de um vírus mortal. Uma população com medo elege um sistema fascista para restaurar a ordem. Entende-se aqui a frase citada por George Owell em seu livro "1984": "Não se estabelece uma ditadura a fim de salvaguardar uma revolução; se faz uma revolução, a fim de estabelecer uma ditadura.” A figura líder deste partido é o chanceler Adam Sutler, que representa não só um líder político, como também religioso, atuando como um "porta-voz da razão" para a população.
O lema de seu partido, "Força através da unidade, unidade através da fé", sugere claramente que o Estado depende da resistência da fé de sua população, e essa fé se baseia no chanceler, representando então a figura de um Deus, e como estratégia, exercendo ditatorialmente suas regras e leis, fazendo seu povo segui-las irracionalmente.
Percebe-se no filme alguns elementos para comprovar isso, como a lei do "toque de recolher" e a proibição do consumo de alimentos como a manteiga, e a população, que aceita as ordens mesmo estas sendo de contra-senso. São estratégias para a aceitação do poder supremo do Estado, conduzido por um Deus, que exige fé absoluta nas ordens que limita a seu povo. Neste cenário surge um salvador para o povo contra o governo tirânico. Denomidado "V", usando uma máscara de Guy Fawkes, tem o obejetivo de incentivar a população a uma revolução, se rebelando contra o governo opressor.
Como V cita, seus métodos radicais são representativos, como ele próprio, representando a voz que expressa sem medo a vontade humana de derrubada da barragem e libertação da submissão.
V mostra à Evey que se deve perder o medo da morte para se libertar de sua "prisão mental". A morte e a tortura são os elementos que o Estado usa para repreender seu povo, e foi disso que V usou para libertar Evey.
A representação dessa concessão é como uma encarnação de um espírito, uma iluminação. E assim, Evey entende a revolução que V busca: sem medo da morte, a própria pessoa se torna seu Deus ("God is in the rain"). Aqui, para mim o ápice do filme, representa a mensagem gnóstica do escritor Alan Moore. A revolução que V busca representa a libertação de todas restrições, não havendo mais qualquer problema com a consciência. O momento de encarnação é épico para os personagens pois, até esse momento, em suas consciências, existe apenas um caminho de se chegar a Deus, e então, após perder o medo, que é a estratégia do Estado, eles econtram em si próprios a salvação. É exatamente o contrário da doutrina de Adam Sutler, que diminui a vida do homem por controlar a sua consciência e amendontrá-lo com a repressão através da força.
A história sentimental e cruel da jovem homessexual Valerie Page, importante para a libertação de V e Evey, mostra o Deus opressor que é Adam Sutler, que usa do poder e da força da lei para obtenção de seus objetivos, perseguindo os homossexuais e utilizando-os numa prisão para experimentos científicos, ato que tardiamente servirá para eleição de seu partido.
Os dominós que V monta representam a revolução, e ao mesmo tempo todas as consequências dos eventos que tomam sentido cada vez mais para o inspetor Finch, como um efeito em cadeia. Finch foi também, como Evey, liberto das doutrinas do governo, ao aceitar sem detrimento de sua consciência que Evey concluísse o ato final da revolução de V.
Como citado antes, os atos de V são representativos, e ele mesmo, em sua cena final, admite que sabe que irá morrer e afirma: “Por trás deste corpo, há uma ideia… E as ideias são à prova de balas.” Isso ocorre porque, ao incentivar a população a pensar por si própria, ele tem o objetivo de eliminar todas conexões com o poder, incluindo ele próprio, pois não tem nenhum desejo de sobreviver, o que o move são suas ideias.
Assim, os dominós representam a eliminação de todos representativos do poder, sendo ele o último dominó a cair nesse efeito em cadeia. Conclusão: o filme é um elemento de transformação em si; Evey representa a figura transformada, que quebrou as barreiras impostas por Adam Sutler (a imagem de Deus) e transformou-se brutamente em revolucionária e destemida. V é o agente transformador, sem nome, nem rosto e história, é o produto do ambiente, ou seja, como dito por Evey: "É todos nós".
Para reforçar as referências citadas, segue uma frase de V nos quadrinhos de Allan Moore e a cena final do filme. Até mais, camaradas! "I am the devil, and I come to do the devil's work"
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