"O feminismo e a diversidade de gênero: natural ou cultural?"
Segue, no texto, posicionamento e resenha diante de ''Os feminismos no Brasil: dos “anos de chumbo” à era global'' de Margareth Rago e ''Diversidade de gênero - Mulheres'' de Rosa Maria Godoy Silveira.
O crescente feminismo no Brasil vem levando os machistas à loucura. Mas não é um movimento recente e nem surgiu do nada. Desde a década de 30 o pensamento tradicional e patriarcal começou a perder sentido na mente de muitas mulheres, chegando a atingir inclusive homens, após uma maior abrangência do tal.
Nos anos de chumbo, com a intensa industrialização do país, mulheres se viram ocupando o mesmo espaço de trabalho que o homem, mas sem ganhar reconhecimento e crescimento em fábricas. Com isso, os movimentos feministas já formados, viram na mulher operária a solução para a liberdade feminina. Mas inclusive nos partidos de esquerda existia certo machismo quanto a liderança de movimentos e protestos. O feminismo, então, não era propriedade de nenhum partido, mesmo tendo mulheres filiadas a algum.
Mulheres criaram seus próprios jornais e revistas, as vezes tendo até espaço em outros. Tendo sempre a mulher operária como alvo, já que era quem sofria tanto injustiças machistas, quanto sociais e econômicas.
Nesse contexto, mais do que nunca as mulheres se sentem engajadas e radicais de recusa total dos padrões sexuais e do modelo de feminilidade. Lutavam contra a opressão em partidos, em fábricas, em empresas. Já não mais aceitavam viver à sombra do homem, sempre submissas. Assuntos femininos antes tratados apenas na esfera privada, agora estavam também na pública.
Tendo a mulher operária como referência, o movimento feminista passou a usufruir de um discurso de esquerda. Ainda sim queriam se diferenciar do machismo, existente na esquerda e na direita. Queriam se impor, mostrar que a independência partidária ou sindicalista não iria acabar com a convicção e esforço feminino para dissipar o machismo.
Utilizando uma estratégia política inteligente e racional, falava-se do feminismo de forma marxista e que enfatizava o conceito de classe. Assim, o movimento atingiria maior esfera e teria maior influencia sobre os setores esquerdistas da época.
Com essa expansão, foram criados grupos feministas que se disseminavam que tomavam conta das cidades, e principalmente das metrópoles. As mulheres agora já não precisavam se apoiar em nenhum discurso, elas podiam ter sua própria linguagem. Essas mulheres, cheias de vontade, contribuíram fortemente com movimentos de redemocratização, entre outros. Isso acarretou não só numa expansão do pensamento feminista inacreditável, como também abriu espaço para assuntos femininos na esfera cultural.
Inicia-se então, um critica explicita tanto aos homens que taxavam as feministas de mal-amadas ou algo do tipo, quanto às mulheres que se submetiam ao mesmo pensamento. Deixava-se claro que pra seguir os padrões femininos impostos pela sociedade, era preciso gastar muito, incentivando o consumismo, e aumentando a alienação populacional.
Mas, apesar de toda essa luta contra um machismo opressor e desumano, nós, mulheres, ainda não chegamos aonde queremos, e onde temos direito. É absurda a quantidade de cidadãos que taxam o movimento como desnecessário, ou como ‘’necessidade de aparecer’’. Aparecer. Esse é o ponto. Aparecer tanto quanto os homens, não no sentido exibicionista, mas no sentido social, econômico, dentro de cada casa, empresa, sindicato, seja o que for.
O machismo chega ao ponto de conseguir persuadir uma grande quantidade de mulheres, tornando-as vitimas e percursoras da opressão contra o movimento, e contra as próprias mulheres. Vimos exemplos disso as televisões e programas, como quando a cantora Anitta, no Altas Horas, diz que a mulher está exagerando ao exigir os mesmos direitos dos homens, e que devemos nos comportar de forma que pareçamos decentes aos olhos machistas de muitos homens.
Chega a ser imoral achar que as mulheres têm os mesmos direitos de um homem, a começar pela desigualdade salarial, que parece absurda e inexistente, mas que acontece. Como dizer que existe igualdade, quando se veem pouquíssimas mulheres em cargos altos em empresas? É impossível. Além de a mulher não ter o mesmo salário, exige-se muito mais dela. A mulher, hoje, trabalha mais que o homem, não apenas na empresa, mas no geral, considerando emprego e filhos.
Não existe igualdade, quando não há respeito, quando não se pode caminhar durante a noite sem temer um abuso, ou coisa do tipo. Não existe igualdade onde se ouvem cantadas e comentários abusivos a qualquer hora do dia, e em qualquer lugar. Não existe igualdade onde ainda se duvida da capacidade feminina de realizar alguma tarefa difícil.
O movimento feminista não é desnecessário, e muito menos exibicionista. É visador de uma sociedade igualitária, não apenas se restringindo ao sexismo, mas também á esfera racial e social.
Ainda não chegamos à equidade desejada, mas deve-se intensificar o movimento. Foi a resistência das mulheres que nos deram muito mais voz do que tínhamos. E merecemos mais. Merecemos uma voz tão alta e forte quanto a masculina. Merecemos mais empregos, salários iguais, jornadas de trabalho mais curtas, menos padrões, menos cantadas na rua, menos abusos, menos opressão, menos machismo. ° A diversidade de gênero
As primeiras diferenças sexuais percebidas entre mulheres e homens foram as corporais, ou seja, as biológicas. Essas diferenças serviam de base para uma divisão sexual do trabalho, atribuindo certas atividades aos homens e outras, ás mulheres. A divisão, em sua universalidade e singularidade consagrou; ás mulheres, como gestavam a família, ficaram as atividades domésticas – de esfera privada, e aos homens as atividades de esfera pública, como sustentadores da família. Assim foram surgindo interpretações acerca dessas práticas, associou-se ao masculino aquilo que era produzido pela ação humana e ao feminino aquilo que era natural e já determinado pela biologia/natureza. Ao passo que isso se generaliza e materializa, torna-se uma ideia pré-determinada para definição do gênero, como vemos o modelo/padrão do masculino foi atribuído a racionalidade e o do feminino á afetividade, emoções, intuição. Surge então o modelo dominante da relação entre os dois gêneros; o patriarcalismo, assimilando relações de poder entre homens e mulheres, onde há certa submissão destas àqueles. Assim os papeis sociais foram logo definidos, atividades sociais foram atribuídas e pré-determinadas, caracterizando desde educação diferenciada pelo gênero a brinquedos (objetos) pertencentes a meninos e outros a meninas. Os trabalhos domésticos foram atribuídos á mulher como obrigação. A estas não era considerado próprio ocupar certas profissões no mercado de trabalho, onde seus salários eram inferiores aos dos homens, e também magistérios, em que certo “privilégio” era concebido apenas aos homens. Baseados na natureza diversificada entre os gêneros, todos os filósofos Iluministas e mesmo a Revolução francesa não incluíram a mulher aos direitos cidadãos, defendendo a submissão de poder da mulher pelo homem. As mulheres reagiram e em 1791, a francesa Olympe de Gouges manifestou-se contra a exclusão das mulheres dos direitos proclamados na época. Outra mulher serviu de referência para luta das mulheres no século XIX, a escritora inglesa Mary Wollstonecraft, que escreveu um livro reivindicando os direitos das mulheres, tais como á cidadania e educação, provando para a sociedade a capacidade de uma mulher, que só não foi reconhecida pela visão machista e preconceituosa impregnada na sociedade. O Feminismo – elementos teóricos O significado da palavra gênero desde o século XV era basicamente diferenciar os homens, que teriam determinadas características, das mulheres, que teriam outras determinadas características. Nas concepções definidas ás mulheres estão a procriação da espécie, sendo seu papel o de gestora da família, exercendo um trabalho não remunerado (e nem um pouco valorizado), em que ela deveria permanecer no espaço doméstico. O Feminismo foi o primeiro movimento a criticar tais concepções, reformulando o significado de gênero. O movimento defende que gênero deve ser uma construção sociocultural, e não uma relação pré-determinada, como era visto. Na minha visão, a identidade não deve ser pressuposta, ações não devem ser esperadas pela caracterização de gênero, pois assim não haverá valorização das ações quando estas são vistas como obrigadas, e a identidade é vista como algo dado, e também não haverá julgamentos (sociais e morais) das condutas dos indivíduos. O Feminismo esclarece que os indivíduos não se constituem por si sós, mas sim nas interações sociais. Assim, destrói a ideia de que a condição da mulher seja naturalista, que o fato dela ter características biológicas distintas dos homens a coloca em situação de inferioridade, bem como seu papel predestinado obrigatório para exercer maternidade. Outras construções culturais como família, cuidado, responsabilidade não são vinculados ao gênero. Não há uma identidade única, imutável e universal, pois esta varia diante da cultura, tempo, espaço e construção histórica. Assim a concepção binária (masculino-feminino) não deve existir. Homens e mulheres não deveriam se pautar, nunca se sentir efeminados ou masculinizadas, pois o padrão dominante foi construído por uma base religiosa, científica, educativa, política. Não somos isto ou aquilo, somos uma mistura, sem rótulos. As interpretações de gênero são modos como a sociedade e os grupos sociais interpretam e dão significado ás ações, tais como impulsos sexuais, relacionamentos afetivos, compreensão de representações, práticas sociais, valores, ou seja, o sistema simbólico ou um sistema de significações que relaciona o sexo a conteúdos culturais de acordo com valores e hierarquias sociais.O conceito supera a divisão entre esfera pública e esfera privada e é uma possibilidade de mudança da situação de opressão, pois a compreensão que temos como sujeito social determina se podemos aceitar uma determinada situação ou não.
O Machismo nosso de cada dia: “Naturalizar as diferenças entre sexos como algo dado, imutável, é reduzir não só a humanidade do Outro, mas a própria.” A situação em que encontramos a sociedade, onde há assédio sexual, estupro, violência contra a mulher é alarmantemente preocupante. A luta contra o machismo e uma sociedade patriarcal com hierarquia de gêneros tem o objetivo para alcançar o respeito diante do outro, onde não haja discriminação e violência. O machismo está presente em nossa sociedade e é usado também pela indústria que reforçam ideias do que as mulheres são, quais são as suas aspirações e qual são os seus papeis. Ou quando a indústria atribui o corpo de uma mulher como desejável, atribuindo padrões a serem seguidos. O machismo está nas ruas, onde mulheres são assediadas, e homens se sentem na posição de fazer esta abordagem pela aparência (pelas roupas que elas vestem), atribuindo isso como elogios que todas as mulheres deveriam gostar. A prática do feminismo luta para que os salários sejam iguais entre homens e mulheres que desemprenham o mesmo cargo, para que mulheres não sejam vítimas de violência familiar, para que as atividades praticadas por mulheres não sejam pautadas diferentemente como pautamos aos homens (como por exemplo, a frequência sexual de uma pessoa) para que a maternidade seja uma oportunidade e não um fardo (limitante e opressor). Essa luta está presente em nossas vidas, ao recusarmos a posição de opressão que se encontra nos mínimos detalhes. Devemos prezar a diferença e não abrir mão da igualdade!